Por Machado de Assis (1878)
— Das febrículas nascem os febrões disse sentenciosamente o amigo de Gil Gomes. Esse amigo chamava-se Borges; era um resto de sucessivos naufrágios. Tinha sido várias coisas, e ultimamente preparava-se a ser milionário. Contudo estava longe; tinha apenas dois escravos boçais comprados entre os últimos chegados por contrabando. Era, por ora, toda a riqueza, não podendo incluir-se nela a esposa que era um tigre de ferocidade, nem a filha, que parecia ter o juízo a juros. Mas este Borges vivia das melhores esperanças. Ganhava alguma coisa em não sei que agências particulares; e nos intervalos cuidava de um invento, que ele dizia destinado a revolucionar o mundo industrial. Ninguém sabia o que fosse, nem que destino tivera; mas ele afirmava que era grande coisa, útilíssima, nova e surpreendente.
Baixar texto completo (.txt)ASSIS, Machado de. Conversão de um avaro. Jornal das Famílias, Rio de Janeiro, 1878.