Por Gregório de Matos (1650)
quando o teu pecado vendo tomaste o teu miserere: mas é bem, que me exaspere de ver, que todo o sandeu, que nos tratos se meteu
de Freiras, logo confessa,
que isso lhe deu na cabeça, e a ti só no cu te deu.
Dessa hora temerária ficou a grade de guisa,
que se até ali foi precisa,
desde então foi necessária: tu andaste como alimária,
mas isso não te desdoura, porque fiado na coura da brutesca fradaria
estercaste estrebaria, o que gostas manjedoura.
Que és frade de habilidade, dás grandíssima suspeita, pois deixas câmara feita, o que foi té agora grade: tu és um corrente Frade
nos lances de amor, e brio, pois achou teu desvario
ser melhor, e mais barato, do que dar o teu retrato, pôr na grade o teu feitio.
Corrido enfim te ausentaste, mas obrando ao regatão, pois levaste um lampião pela cera, que deixaste: sujamente te vingaste
Frei Azar, ou Frei Piorno, e estás com grande sojorno, e posto muito de perna,
sem veres, que essa lanterna
te deram, por dar-te um corno.
O com que perco o sentido, é ver, que em tão sujo tope levando a Freira o xarope tu ficaste o escorrido: na câmara estás provido e de ruibarbo com capa,
mas lembro-te Frei Jalapa, que por cagar no sagrado o cu tens excomungado,
se não recorres ao Papa.
Muito em teus negócios medras com furor, que te destampa,
pois sendo um louco de trampa, te tem por louco de pedras: é muito, que não desmedras, vendo-te trapo, e farrapo,
antes co’a Freira no papo, como no sentido a tinhas,
parece, que a vê-la vinhas,
pois vinhas com todo o trapo.
Tu és magano de lampa,
Bivar é Freira travessa, a Freira pregou-te a peça,
mas tu armaste-lhe a trampa: se o teu cagar nunca escampa, nunca estie o seu capricho, e pois tê pregou, Frei Mixo, chame-se por todo o mapa ela travessa de chapa,
e tu magano de esguicho.
A CERTO FRADE, QUE QUERENDO EMBARCAR-SE PARA FORA DA CIDADE, FURTOU UM CABRITO, O QUAL SENDO CONHECIDO DA MAI PELO BERRO O FOI BUSCAR DENTRO DO BARCO, E COMO NÃO TEVE EFEITO O DITO ROUBO, TRATOU LOGO DE FURTAR OUTRO, E O LEVOU ASSADO.
De fornicário em ladrão se converteu Frei Foderibus o lascivo em mulieribus, o mui alto fodinchão: foi o caso, que um verão tratando o Frade maldito
de ir da cidade ao distrito, querendo a cabra levar, para mais a assegurar,
embarcou logo o cabrito.
Mas a cabra esquiva, e crua a outro pasto já inclinada não quis fazer a jornada,
nem que a faça cousa sua:
balou uma, e outra rua
com tal dor, e tal paixão,
que respondendo o mamão alcançou todo o distrito
nas respostas do cabrito o codilho do cabrão.
Estava ele muito altivo com seu jogo bem assaz,
porém, por roubar sem ás
perdeu bolo, cabra, e chibo:
porque sem pôr pé no estrivo
saltou na barca do Alparca,
e dizendo desembarca saiu co filho a correr,
porque então não quis meter com tal cabrão pé em barca.
O Frade ficou num berro, porque temia o maldito
se não levasse o cabrito,
de achar, que lhe pegue um perro: e por não cair nesse erro
num rebanho em boa fé
outro, a quem o Frei Caziqui, quando ele dizia mihi, ele respondia mé.
Do mé desaparecido foi logo o dono avisado,
que o Frade lhe havia achado
antes dele o haver perdido:
e sendo o sítio corrido,
se achou, que a modo de pá num forno o cabrito está,
que o Frade é des
(continua...)
BRASIL. Crônica do Viver Baiano Seiscentista. Portal Domínio Público. Disponível em: https://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=16657. Acesso em: 30 nov. 2025.