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#Tratados#Literatura Brasileira

Tratado da Terra do Brasil

Por Pero de Magalhães Gândavo (1576)

O Tratado da Terra do Brasil, escrito por Pero de Magalhães Gândavo no século XVI, apresenta uma das primeiras descrições sistemáticas sobre o território, seus habitantes, costumes e riquezas naturais. A obra busca informar leitores europeus sobre a nova colônia portuguesa, combinando observações geográficas, etnográficas e relatos do cotidiano no Brasil.

PRÓLOGO AO LECTOR

Minha intenção não foi outra neste sumário (discreto e curioso leitor) senão denunciar em breves palavras a fertilidade e abundância da terra do Brasil, para que esta fama venha a notícia de muitas pessoas que nestes Reinos vivem com pobreza, e não duvidem escolhei-la para seu remédio; por que a mesma terra e tão natural e favorável aos estranhos que a todos agasalha e convida como remédio por pobres e desamparados que sejam. E assim cada vez se vai fazendo mais prospera, e depois que as terras viçosas se forem povoando (que agora estão desertas por falta de gente) hão de se fazer nelas grossas fazendas como já estão feitas nas que possuem os moradores da terra, e também se espera desta província que por tempo floresça tanto na riqueza como as Antilhas de Castela por que e certo ser em si a terra mui rica e haver nela muitas metades, os quase até agora se não descobrem ou por não haver gente na terra pela cometer esta empresa, ou também por negligência dos moradores que se não querem dispor a esse trabalho: qual seja a causa por que o deixam de fazer não sei. Mas permitirá nosso Senhor que ainda em nossos dias se descubram nela grandes tesouros, assim para serviço a aumento de S. A., como pela proveito de seus Vassalos que o desejam servir.

DECLARAÇÃO DA COSTA

Esta costa do Brasil está pela a parte do ocidente, corre-se Norte e Sul . Da primeira povoação até derradeira ha trezentos e cinco lagoas. São oito Capitanias, todas têm portos mui seguros onde podem entrar quaisquer não por grandes que sejam. Não há pela terra de povoações de portugueses por causa dos indios que não nos consentem e também pelo socorro e tratos do Reino lhes e necessário estarem junto ao mar para terem comunicação de mercadorias. E por este peito vivem todos junto da Costa.

CAPÍTULO I

DA CAPITANIA DE TAMARACÁ

A povoação da primeira Capitania, e mais antiga está numa ilha que se chama Tamaracá pegada com a terra firme; tem três lagoas de comprido e duas de largura. Tem trinta e cinco lagoas de terra pela Costa pelo Norte. E de dona Jeronima Dalbuquerque, mulher que foi de Pero Lopes de Sousa, na qual tem posto Capitão de sua mão. Ha nela um engenho dassucre e agora se fazem dous novamente e muito pau do Brasil e algodão. Pode ter até cem vizinhos. Ha nesta Capitania muitas e boas terras para se povoarem e fazerem nelas fazendas.

CAPÍTULO II

DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO

A Capitania de Pernambuco está cinco lagoas de Tamaracá pela o Sul em altura de oito graus, da qual e Capitão e governador Duarte Coelho Dalbuquerque. Tem duas povoações a principal se chama Olinda, a outra Guarassú, que está quatro lagoas pela terra dentro. Haverá nesta Capitania mil vizinhos.

Tem vinte e três engenhos dassucre posto que destes três ou quatro não são ainda acabados.

Alguns moem com bois, a estes chamam trapiches, fazem menos assucre que os outros: mas a maior parte dos engenhos do Brasil moem com água. Cada engenho destes um por outro, faz três mil arrobas cada ano, nesta Capitania se fazem mais assucres que nas outras, por que houve ano que passaram de cinqüenta mil arrobas, ainda que o rendimento deles não é certo, são segundo as novidades e os tempos que se oferecem. Esta se acha uma das ricas terras do Brasil, tem muitos escravos indios que é a principal fazenda da terra. Daqui os levam e compram por todas as outras Capitanias, por que há nesta muitos, e mais baratos que em toda a Costa: há muito pau do Brasil e algodão de que enriquecem os moradores desta Capitania. O porto onde os navios entram está uma lagoa da povoação Olinda; servem-se pela praia e também por um rio pequeno que vai dar junto da mesma povoação. A esta Capitania vão cada ano mais navios do Reino que a nenhuma das outras. Há nela um mosteiro de Padres da Companhia de Jesus.

RIOS


Há dous Rios caudas até a Bahia de Todos os Santos; um se chama de São Francisco, está em dez graus e meio, o qual entra no mar com tanta fúria que vinte lagoas pelo mesmo mar correm suas águas.Outro Rio está em onze graus e dous terços que se chama o Rio Real, também é mui grande e correm suas águas pelo mar.


CAPÍTULO III



DA CAPITANIA DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS

(continua...)

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