Por Ronaldo Martins
21/11/2025
O escritor C.S. Soares acaba de publicar o romance "Machado: O Filho do Inverno", que retrata de forma ficcional a estratégia de Machado de Assis para lidar com o sistema escravocrata em sua época. A obra investiga a vida pessoal e intelectual do autor a partir de dilemas morais, sociais e raciais.
C.S. Soares lança o novo livro Machado: O Filho do Inverno, uma ficção histórica centrada em Machado de Assis, abordando sua relação com a escravidão e a posição social do Brasil oitocentista. A narrativa propõe uma reinterpretação da trajetória do escritor a partir de escolhas íntimas e públicas que moldaram sua visão sobre raça, poder e literatura.
No romance, Soares imagina os bastidores do pensamento de Machado: suas conversas, reflexões e angústias ao conciliar sua ascensão social com uma época marcada pela desigualdade racial. Segundo o autor, a ideia é mostrar Machado não apenas como um observador irônico da sociedade, mas como alguém consciente dos paradoxos morais de seu tempo.
A publicação dialoga com estudos acadêmicos recentes que interpretam Machado de Assis como um agente estratégico na representação da escravidão. Pesquisas apontam que ele adotava uma linguagem sofisticada para tratar do tema escravocrata de forma velada e profunda — evitando diretamente os grandes discursos políticos, mas refletindo sua presença em narrativas literárias. valor.globo.com
O livro será lançado em formato físico e digital. A edição física já está disponível para encomenda, enquanto a versão eletrônica (eBook) também é oferecida para leitores que preferem dispositivos digitais. Machado: O Filho do Inverno
Soares investe em um retrato multifacetado de Machado: relata dramatizações fictícias de momentos-chave da sua vida, como a descoberta de desigualdades, embates internos sobre sua condição social e debates literários com contemporâneos. Além disso, a obra propõe diálogos com figuras escravizadas, ampliando a perspectiva sobre o impacto do sistema escravocrata sobre sua escrita.
A ambientação histórica é detalhada: o autor descreve o Rio de Janeiro do século XIX, os salões literários, os jornais e a elite intelectual, mas também os bastidores da produção cultural e editorial. A paixão pela linguagem, o conflito moral e a ambiguidade ética presentes nos escritos de Machado são temas centrais da trama.
Para Soares, Machado: O Filho do Inverno é tanto homenagem quanto questionamento. Ele busca explorar como Machado de Assis construiu seu legado literário e social num país marcado por desigualdades profundas. A narrativa aposta na imaginação histórica para gerar empatia e trazer à tona questões raciais que ressoam até hoje.
A publicação chega em um momento de renovado interesse acadêmico por Machado de Assis sob a lente da raça: estudiosos têm apontado que sua obra contém críticas sutis ao sistema escravocrata e reflexões sobre as limitações de uma sociedade estratificada. Esse debate recente tem gerado discussões sobre a imagem tradicional de Machado apenas como um moralista elegante. valor.globo.com
Importância literária — Machado: O Filho do Inverno reforça a relevância contemporânea de Machado de Assis como figura central da literatura brasileira, abrindo possibilidades de leitura que unam pesquisa histórica, ficção e crítica social. A obra de Soares pode dialogar tanto com leitores apaixonados por Machado como com novos públicos interessados no Brasil escravocrata e nas questões raciais.
Com o lançamento, espera-se que o livro seja objeto de debates literários, resenhas e estudos em cursos de literatura, história e ciências humanas — alimentando a reflexão sobre o passado brasileiro e a herança cultural de uma das mais complexas figuras da literatura nacional.