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#Notícias#Línguas índigenas

CAPES premia tese sobre resistência linguística indígena no século XVIII

Por Sthefany Vogado

19/11/2025

A doutora Bruna Trindade Gomes Carneiro, da UEFS, venceu o Prêmio CAPES de Tese 2025 na área de Linguística e Literatura com seu estudo sobre um códice da Língua Geral Amazônica (1750–1758), demonstrando que a língua continuou viva e deu origem ao nheengatu, apesar das políticas coloniais de apagamento.

No centro do estudo está um manuscrito setecentista identificado como “Grãmatica da lingua geral do Brazil, com hum diccionario dos vocábulos mais uzuaes”, atualmente preservado na Universidade de Coimbra. Carneiro realizou uma edição semidiplomática do documento, combinando métodos filológicos, paleográficos e históricos para examinar sua produção e circulação.

A partir da análise do códice, a pesquisadora identificou que ele foi escrito por duas pessoas diferentes, e que uma delas não tinha o português como primeira língua. Essa constatação sugere que a Língua Geral Amazônica (LGA) era falada ativamente por não europeus, e não apenas empregada de modo ocasional.

Carneiro também mapeou, na tese, como a LGA foi usada na Amazônia no século XVIII: em contextos da catequese, na comunicação diária e como meio de ensino para o português. Ou seja, a língua não era apenas uma ferramenta missionária, mas estava integrada à vida social colonial.

Um ponto central do trabalho é a demonstração de que a Língua Geral Amazônica resistiu à política colonial de apagamento promovida no período pombalino. Segundo a pesquisadora, essa língua evoluiu para o nheengatu, ainda falado em comunidades amazônicas hoje.

Além das abordagens tradicionais, a tese aplica recursos de humanidades digitais: Carneiro usou programação (Python) para analisar características paleográficas — como marcas d’água, tinta, caligrafia — e, assim, compreendeu a materialidade do manuscrito de forma mais profunda.

A CAPES destacou a relevância simbólica e acadêmica do trabalho: além de valorizar a história de uma língua indígena, a tese inaugurou um novo nível de reconhecimento para o Programa de Estudos Linguísticos da UEFS, que conquistou seu primeiro Prêmio CAPES nessa área.

Segundo Bruna Carneiro, a pesquisa contribui para políticas linguísticas contemporâneas, oferecendo bases para a preservação do patrimônio linguístico indígena e reforçando a importância de reconhecer a pluralidade das identidades linguísticas no Brasil presente.

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