Por Caroline Alves
28/09/2025
A escritora e jornalista Suzana Varjão lança duas obras da série Histórias em que denuncia problemas e desvios civilizatórios do Brasil. Em Diário de uma louca — Ou um sanatório chamado Brasil, aposta no humor satírico para questionar a normalidade nacional. Já em Divagações – ou retratos brasileiros, expõe desigualdades, opressões e feridas simbólicas que marcam o país.
A série Histórias, de Suzana Varjão, ganha novos títulos que buscam revelar contradições da sociedade brasileira por meio de narrativas críticas e inventivas. A autora, natural da Bahia e com carreira consolidada em Brasília, apresenta Diário de uma louca — Ou um sanatório chamado Brasil e Divagações – ou retratos brasileiros, obras que se complementam na denúncia dos desvios civilizatórios do país.
Em Diário de uma louca, Suzana utiliza humor satírico como recurso literário. O livro funciona como um espelho invertido, em que o Brasil é colocado frente a frente com sua própria insanidade. Ao recorrer a trechos absurdos, a escritora cria metáforas que refletem disfunções sociopolíticas reais. A personagem central, uma "louca", representa um “eu” coletivo fragmentado, revelando as tensões de uma razão coletiva constantemente posta à prova.
Já em Divagações – ou retratos brasileiros, a autora oferece narrativas que desenham o país como uma nação semicolonial. O livro aborda estruturas históricas e persistentes — racismo, machismo, eugenia, coronelismo — e investiga seus impactos psicológicos sobre populações subalternas. A proposta é construir pequenas janelas para reflexões mais amplas sobre desigualdades, opressões e feridas simbólicas que ainda moldam o Brasil contemporâneo.
Com 20 prêmios de reportagem e 11 livros publicados entre crônicas e contos, Suzana Varjão construiu trajetória multifacetada. Atuou como repórter, fotógrafa, redatora, editora, editorialista, professora e gestora no campo do jornalismo. Essa experiência diversificada se reflete em sua escrita literária, que combina precisão jornalística com liberdade criativa.
Em entrevista, a escritora revelou que utilizou um “truque com espelhos” para inverter ideias e questionar concepções de normalidade. “Coloquei o Brasil frente a frente com sua própria insanidade”, afirmou. Para ela, o trabalho não deve ser rotulado como literatura engajada, mas sim como “literatura humanista”. A autora sustenta que toda arte carrega valores — sejam eles positivos ou negativos — e, portanto, sempre dialoga com a sociedade.
Varjão analisa a linguagem como instrumento simbólico capaz de moldar mentalidades. Segundo ela, narrativas não podem se limitar a discursos utilitários, já que têm o poder de transformar sensibilidades. Nesse sentido, o aspecto lúdico ocupa papel central em sua escrita: mais do que entreter, funciona como ferramenta de impacto para transmitir mensagens profundas ao leitor.
A combinação de crítica social, humor ácido e sensibilidade estética torna os novos títulos parte de uma tradição literária que busca confrontar o Brasil com suas próprias contradições. Enquanto Diário de uma louca explora a insanidade coletiva como metáfora política, Divagações amplia o foco para retratos de estruturas sociais que perpetuam desigualdade e exclusão.
Com isso, Suzana Varjão reforça seu lugar na cena literária nacional, articulando jornalismo, literatura e crítica social em um projeto que não apenas narra, mas provoca reflexão.
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