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#Notícias#Ensino e Aprendizagem de Segunda Língua

Reino Unido registra queda acentuada no ensino formal de línguas

Por Pedro Simões

27/09/2025

Pesquisa do Higher Education Policy Institute (HEPI), realizada por Megan Bowler e patrocinada pela Duolingo, aponta uma redução significativa no estudo formal de línguas no sistema educacional britânico. O relatório mostra queda no número de matrículas em idiomas em colégios e universidades, baixo cumprimento das metas de recrutamento de professores e desigualdades regionais, além de recomendar medidas para reverter esse declínio.

Um novo relatório intitulado The Languages Crisis: Arresting Decline, publicado pelo Higher Education Policy Institute (HEPI), revela uma deterioração contínua no aprendizado formal de línguas no Reino Unido. A pesquisa, elaborada por Megan Bowler e patrocinada pela plataforma Duolingo, traça cenários preocupantes nas escolas e universidades e propõe recomendações para enfrentar o problema.

O documento aponta que, em 2024, apenas 2,97% dos exames A-Level incluíram disciplinas relacionadas a línguas. O número de matrículas em Educação Física nesses exames chegou a superar o total combinado de estudantes em Francês, Alemão e Línguas Clássicas. A participação em exames GCSE (General Certificate of Secondary Education) de língua também varia de acordo com a condição socioeconômica: em áreas mais favorecidas, cerca de 69% dos alunos optam por uma língua, enquanto em regiões mais pobres esse percentual cai para 46–47%. Além disso, o recrutamento de professores de línguas atingiu apenas 43% da meta governamental em 2024. No ensino superior, a adesão a cursos de “Linguagens e Estudos Comparados” caiu 20% nos últimos cinco anos. Desde 2014, 28 cursos universitários de línguas modernas foram encerrados, muitos em universidades pós-1992; atualmente, apenas 10 delas mantêm essa oferta.

O relatório também apresenta um conjunto de recomendações para mitigar a crise. Entre elas, está a necessidade de reforçar o recrutamento de professores, inclusive restaurando incentivos financeiros para formandos de línguas, além de criar caminhos de qualificação consistentes, como tornar obrigatório o aprendizado de línguas até os 18 anos e manter o GCSE de língua entre os requisitos do English Baccalaureate. O documento sugere ainda a revitalização de “language hubs” para apoiar escolas públicas, com recursos compartilhados com o setor independente e universidades, bem como o apoio ao multilinguismo por meio da valorização de línguas faladas em casa e por comunidades complementares à escolarização formal. Também recomenda investimentos no ensino da Língua de Sinais Britânica, de modo a estruturar pessoal e recursos para viabilizar o novo GCSE em BSL.

No ensino superior, as medidas incluem elevar a prioridade dada às línguas, fortalecendo a oferta de cursos e incentivando colaborações entre departamentos ou instituições, além de melhorar a supervisão acadêmica para evitar o desaparecimento de formações consideradas pequenas, mas estratégicas. O relatório defende ainda a destinação de fundos públicos para áreas geográficas onde a oferta de línguas está mais fraca e para idiomas de importância estratégica. Outra sugestão é expandir as oportunidades de aprendizado de línguas ao longo da vida, com certificados aplicados ou outros caminhos alternativos de qualificação. Por fim, propõe-se a criação de uma voz institucional forte no governo para o setor, como um “Conselheiro Chefe” que acompanhe o progresso e formule políticas específicas.

O relatório alerta para a existência de um ciclo vicioso: a baixa participação estudantil em línguas leva ao corte de cursos nas universidades; isso reduz ainda mais as oportunidades de aprendizado, reforçando o desestímulo nas escolas. Também é destacado que, apesar do avanço de tecnologias de tradução automática e inteligência artificial, as competências desenvolvidas com o aprendizado formal de línguas — como pensamento crítico, habilidade oral, precisão na comunicação e adaptação cultural — permanecem essenciais e não são plenamente substituíveis por máquinas.

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