Por Ronaldo Martins
24/07/2025
Estudo de mestrado da Universidade Federal de Lavras analisou como licenciandos em Letras/Inglês utilizaram o ChatGPT na criação de atividades didáticas. A pesquisa destaca o potencial criativo e ágil da ferramenta, mas também alerta para limitações e a necessidade de formação docente crítica e contínua no uso da IA generativa.
Uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Lavras (PPGL/UFLA) investigou o uso do ChatGPT, da OpenAI, como ferramenta de apoio ao ensino de Língua Inglesa. O estudo foi realizado no momento em que a tecnologia começava a se popularizar, em 2022, com o lançamento da versão 3.5 do modelo.
A dissertação, de autoria de Roberto Magalhães, contou com a participação de 24 estudantes do 9º período da licenciatura em Letras/Inglês da UFLA, matriculados na disciplina “Tecnologias de Informação e Comunicação no Ensino de Línguas”. Os alunos foram convidados a explorar o ChatGPT para criar atividades didáticas em inglês e, em seguida, responderam a formulários com questões abertas e fechadas, compartilhando suas impressões sobre a experiência.
“A ideia surgiu concomitantemente ao lançamento do ChatGPT versão 3.5, quando a tecnologia já se mostrava revolucionária”, afirma Roberto. A professora Patrícia Vasconcelos Almeida, responsável pela disciplina e orientadora da pesquisa, explica que o foco da proposta foi observar como os licenciandos interagiriam linguisticamente com a IA, elaborando comandos e analisando as respostas recebidas. “Queríamos avaliar essa interação no processo de criação de atividades em inglês”, detalha.
As respostas dos estudantes foram analisadas por meio de métodos quantitativos e qualitativos. A fundamentação teórica se apoia nos estudos da CALL (Computer-assisted Language Learning) e em pesquisas recentes sobre modelos de linguagem aplicados à educação, além de considerar o papel histórico e social das tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem.
Os resultados indicam que os participantes reconheceram o ChatGPT como uma ferramenta criativa, rápida e flexível. Foram destacadas vantagens como a agilidade na criação de conteúdos, a possibilidade de personalização das atividades conforme o público-alvo e a facilidade de ajustes contínuos nos materiais produzidos.
Entretanto, os estudantes também identificaram limitações relevantes. Entre elas, estão a confiabilidade variável das respostas, a precisão das informações fornecidas e a necessidade de elaborar comandos claros e bem formulados para obter bons resultados. “Para toda ferramenta de inteligência artificial, não é dispensável o crivo humano e a reflexão sobre o que está sendo gerado”, ressalta Roberto. “O papel do professor continua sendo fundamental para garantir que os conteúdos estejam adequados ao contexto educacional.”
A pesquisa conclui que o ChatGPT possui grande potencial como recurso auxiliar no ensino de Língua Inglesa, desde que seja utilizado de forma crítica e com formação docente adequada. O estudo também aponta caminhos para futuras investigações sobre o uso de inteligência artificial na educação. “Várias outras pesquisas podem se desdobrar a partir daí”, afirma a professora Patrícia.
Roberto destaca ainda que os resultados não podem ser generalizados, devido ao número limitado de participantes e às funcionalidades restritas da versão do ChatGPT utilizada na época, que não incluía ainda recursos como interação por voz. Mesmo assim, as observações feitas permanecem relevantes por registrarem as impressões iniciais da inserção da IA generativa no contexto educacional.
O trabalho contou com a colaboração das professoras Mauricéia Silva de Paula Vieira e Ana Carolina de Laurentiis Brandão, como membros da banca avaliadora, e com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes).
