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#Tratados#Literatura Brasileira

Tratado da Terra do Brasil

Por Pero de Magalhães Gândavo (1576)


Pelas terras desta Capitania até junto do Espirito Santo, se acha uma certa nação de gentio que veio do sertão há cinco ou seis anos, e dizem que outros indios contrários destes, vieram sobre eles a suas terras, e os destruirão todos e os que fugirão são estes que andam pela Costa. Chamam-se Aymorés, a língua deles é diferente dos outros indios, ninguém os entende, são eles tão altos e tão largos de corpo que quase parecem gigantes; são mui alvos, não têm parecer dos outros indios na terra nem têm casas nem povoações onde morem, vivem entre os matos como brutos animais; são mui forçosos em extremo, trazem uns arcos mui compridos e grossos conforme a suas forças e as flechas da mesma maneira.Estes indios têm feito muito dano aos moradores depois que vieram a esta Costa e mortos alguns portugueses e escravos, porque são inimigos de toda gente. Não pelejam em campo nem têm ânimo para isso, põem-se entre o mato junto de algum caminho e tanto que passa alguém atiram-lhe ao coração ou a parte onde o matem e não dispensam flechas que não na empreguem. Finalmente, que não têm rosto direito a ninguém, senão a traição fazem a sua. As mulheres trazem uns pães tostados com que pelejam.Estes indios não vivem senão pela flecha, seu mantimento e caça, bichos e carne humana, fazem fogo debaixo do chão por não serem sentidos nem saberem onde andam. Muitas terras viçosas estão perdidas junto desta Capitania as quais não são possuídas dos portugueses por causa destes indios. Não se pode achar remédio pela os destruírem porque não têm morada certa, nem saem nunca dentre o mato: E assim quando cuidamos que vão fugindo ante quem os persegue, então ficam atras escondidos e atiram aos que passam descuidados. Desta maneira matam alguma gente. Tantos quantos indios há no Brasil são seus inimigos e temem-nos muito, porque é gente atraiçoada. E assim onde os há nenhum morador vai a sua fazenda por terra que não leve quinze vinte escravos consigo de arcos e flechas. Estes Aymorés são mui ferozes e cruéis, não se pode com palavras esclarecer a dureza desta gente. Não andam todos Juntos, derramam-se por muitas partes, e quando se querem ajuntar assoviam como pássaros ou como bogios de maneira que uns aos outros se entendem e se conhecem Também os portugueses matam alguns deles, e têm muitos destruídos principalmente nesta Capitania dos llhéos, e guardam-se muito deles, porque já sabem suas manhas e conhecem mui bem sua malícia.


CAPÍTULO VI

DA CAPITANIA DE PORTO SEGURO

A Capitania de Porto Seguro está trinta lagoas dos Ilhéos em dezesseis graus e meio. E do Duque d'Aveiro, na qual tem posto Capitão de sua mão. Tem três povoações, a principal é Porto Seguro, que está junto do porto onde os navios entram. Outra esta daí uma lagoa que se chama Santo Amaro; outra Santa Cruz, que esta dai quatro lagoas pela o Norte. Pode haver nesta Capitania duzentos e vinte vizinhos. Tem cinco engenhos dassucre. Há nela um mosteiro de padres da Companhia de Jesus.Também chegam a esta Capitania os Aymorés e fazem nela dano aos moradores como nos Ilhéos. E terra mui abastada de caça, e de peixes que matam no rio que está junto da povoação.


CAPÍTULO VII

DA CAPITANIA DO SPIRITO SANTO

A Capitania do Espirito Santo está cinqüenta lagoas de Porto Seguro em vinte graus, da qual e Capitão e governador Vasco Fernandes Coutinho. Tem um engenho somente, tira-se dele o melhor assucre que há em todo o Brasil. Pode ter até cento e oitenta vizinhos. Há dentro da povoação um mosteiro de padres da Companhia de Jesus. Tem um rio mui grande onde os navios entram, no qual se acham mais peixes-bois que noutro nenhum rio desta Costa. No mar junto desta Capitania matam grande cópia de peixes grandes e de toda maneira, e também no mesmo rio há muita abundância deles. Nesta Capitania há muitas terras e mui largas onde os moradores vivem mui afastados assim de mantimentos da terra como de fazendas. E quando se tomou a fortaleza do Rio de Janeiro desta mesma Capitania do Espirito Santo sustentaram toda a gente e proveram sempre de mantimentos necessários enquanto estiveram na terra os que defendiam

RIOS

Avante desta Capitania em altura de vinte e um graus está o rio de Paraíba, este é mui grande e formoso e tem infinito peixe. Junto do Cabo Frio em altura de vinte e dous graus está a Bahia formosa, na qual se pode fazer uma Capitania de muitos vizinhos, onde também se perdem muitas terras por falta de gente. Outros muitos rios há nestas partes que deixo de escrever por serem pequenos e não se fazer tanto caso deles, nem minha intenção foi outra se não tratar destes mais notáveis, onde se podem fazer algumas povoações e conseguir proveito das terras viçosas que por esta Costa estão desertas.

CAPÍTULO VIII

DA CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO

(continua...)

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