Por Pedro Simões (2019)
Assim, imaginemos hipoteticamente que um governo tenta aplicar as ideias do romance na vida real. No mundo real o governo regularmente comete gloticídios, isto é, extinguir as línguas existentes em um determinado local. Mesmo assim, esses idiomas dificilmente desaparecem por completo, já que sempre deixam marcas na língua do dominador.
Assim, em 1984, as crianças que nascessem depois de 2050 dariam uma nova forma a novafala, fazendo-o como a velhafala novamente.
1984 é uma sátira, uma caricatura de governos tirânicos, que existem, existiram e sempre existirão. As revoltas são raras e, quando ocorrem, são facilmente combatidas. Em 1984 a repressão é silenciosa, pois é punida com morte. A resistência é muito difícil e se é obrigado a conviver com o sistema opressor.
Uma ditadura é mais “bem-sucedida” quando oprime todos os aspectos do ser humano, inclusive seu pensamento. Em 1984 até mesmo o sexo é regulado, além de constituir uma atividade pouco prazerosa.
1984 é uma sátira porque não existe uma ditadura absoluta. Mesmo nos mais brutos regimes totalitários não se consegue retirar a humanidade das pessoas e a esperança de um mundo melhor. A língua é um exemplo extremo de como é a ditadura em um estado máximo porque mesmo no regime militar e na Rússia Stalinista não se deixou de produzir literatura ou música de qualidade.
Como uma boa obra literária, é deixado em aberto como a novafala se desenrolaria no futuro, se as novas gerações encontrariam uma maneira de dribá-la ou se tudo ocorreria como planejado. Como Orwell morreu pouco depois de publicar o livro, nunca saberemos...
ORWELL, George. 1984. Tradução de Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Publicado originalmente em 1949.
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