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#Notícias#Políticas Linguísticas e Planejamento Linguístico

Flores da Cunha (RS) mapeia uso do talian para preservar herança linguística local

Por Ronaldo Martins

13/11/2025

A cidade de Flores da Cunha (RS) iniciou um diagnóstico, conduzido pela sua Subsecretaria de Cultura, para verificar a presença, o uso e o vínculo afetivo com o Talian, língua de imigrantes italianos cooficial no município. A iniciativa integra o preparo de um Plano Municipal de Ações para a Salvaguarda da Língua, previsto em decreto local, que visa planejar oficinas, cursos e atividades culturais para fortalecer o idioma e transformar dados comunitários em políticas públicas.

Desde 2015, o talian possui reconhecimento formal no município de Flores da Cunha: foi reconhecido como língua cooficial e patrimônio cultural pelo órgão competente. A pesquisa atual busca mapear não apenas quem ainda fala ou entende o idioma, mas também como ele se insere no cotidiano, qual o perfil dos falantes (como faixa etária e vínculo cultural) e qual o sentimento das pessoas em relação à língua.

O levantamento foi designado pelo Subsecretaria de Cultura de Flores da Cunha e executado pelo Grupo de Trabalho para a Salvaguarda da Língua Talian, equipe que vai compor o relatório base para o decreto municipal de salvaguarda. A partir dessa base, serão definidas metas, prazos e responsabilidades para ações futuras — como cursos de talian, oficinas culturais, projetos intergeracionais e parcerias com escolas, entidades culturais e turísticas.

A metodologia inclui questionário online, disponível a todos os interessados da comunidade, com perguntas sobre conhecimento da língua, frequência de uso, lugar de utilização e percepções pessoais relacionadas ao talian. A adesão à pesquisa tem sido considerada positiva pelos gestores, com participação ativa da comunidade local e apoio da imprensa e de entidades comunitárias.

Uma das metas centrais da iniciativa é aproximar as gerações: a preservação do talian passa por conectar falantes mais velhos com jovens que podem dar continuidade ao idioma, seja no uso cotidiano ou como componente de identidade cultural. A historiadora local indicou que, apesar dos desafios — como poucos falantes ativos entre os jovens —, existe convicção de que unir esforços comunitários pode garantir que o talian “sobreviva”.

O município reforça que o diagnóstico não se limita a números e estatísticas: é parte de um compromisso simbólico e real de escuta da comunidade, considerando o idioma como um elo entre passado e presente, entre a imigração italiana que marcou a região e a identidade contemporânea dos moradores. A participação no levantamento é vista como um gesto de responsabilidade e pertencimento coletivo.

Com a conclusão da coleta de dados, o Grupo de Trabalho irá elaborar o relatório diagnóstico, que servirá como caminho para o Plano Municipal de Ações de Salvaguarda da Língua Talian. Espera-se que o plano resulte em iniciativas concretas como parcerias com escolas para ensino do idioma, atividades culturais bilíngues, produção de material turístico em talian, oficinas de tradução e incentivo à documentação oral e escrita da língua local.

A mobilização em Flores da Cunha se insere em um movimento mais amplo no Brasil pelo reconhecimento e valorização das línguas de comunidades imigrantes e tradições culturais locais. O processo municipal destaca-se por priorizar a escuta direta da comunidade como alicerce para políticas linguísticas eficazes e contextualizadas.

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