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#Notícias#Linguística Histórica#Etnolinguística

Livro revela origem das línguas indo-europeias

Por Ronaldo Martins

07/09/2025

Um novo livro da jornalista britânica Laura Spinney explica como surgiu e se espalhou a família das línguas indo-europeias, falada hoje por cerca de 3,5 bilhões de pessoas, incluindo os falantes de português. Intitulado “Proto: How One Ancient Language Went Global”, o lançamento reúne pesquisas recentes de genética, arqueologia e linguística para reconstruir a trajetória dessa língua ancestral.

As origens apontam para a cultura Yamnaya, de pastores nômades das estepes entre a Ucrânia e a Rússia, há cerca de 5.300 anos. Esses grupos não apenas difundiram seu DNA, mas também costumes sociais e formas de organização que facilitaram a expansão de sua língua. O cavalo teve papel importante nesse processo, mas o livro mostra que fatores como a disseminação de doenças, especialmente a peste, e a criação de amplas redes de alianças sociais também foram decisivos.

Spinney ressalta que a coesão social desses povos foi essencial para a propagação de sua cultura: “A dimensão social é o elemento comum em todos os lugares por onde eles passaram”. Estudos de DNA antigo confirmam que, após essas migrações, as populações da Europa passaram a apresentar conexões genéticas muito mais amplas do que as sociedades agrícolas anteriores.

A autora revisita ainda o trabalho de linguistas do século XVIII e XIX, que perceberam semelhanças entre o grego, o latim, o sânscrito e outros idiomas antigos. A partir dessas comparações, foi possível reconstruir parte do vocabulário do protoindo-europeu e identificar leis fonéticas, como a Lei de Grimm, que explica mudanças sonoras sistemáticas — por exemplo, o “p” do latim que virou “f” nas línguas germânicas, gerando pares como “pai/father” e “pé/foot”.

O livro destaca que a herança indo-europeia não foi uniforme no continente. No norte e no oeste da Europa, a ancestralidade ligada às estepes é dominante; no sul e no leste, aparece em menor grau. Isso pode indicar contatos mais violentos em certas regiões ou diferentes formas de transmissão de doenças.

Apesar de avanços importantes, ainda não se sabe exatamente por que os Yamnaya abandonaram seu território original nos vales dos rios Don e Dnieper para adotar a vida nômade. Spinney acredita que novas pesquisas, embora dificultadas pela guerra na Ucrânia, podem trazer respostas.

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