Letramento: mudanças entre as edições
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O conceito de '''letramento''' | O conceito de '''letramento''' ocupa posição central nos estudos da linguagem e da educação, distinguindo-se, embora não se desvincule, da noção de '''alfabetização'''. Enquanto a alfabetização se refere principalmente à aquisição do sistema de escrita alfabética e à capacidade técnica de decodificação e codificação, o letramento diz respeito à apropriação social da leitura e da escrita, em suas múltiplas funções, práticas e significados. | ||
O letramento representa '''a capacidade de usar socialmente a leitura e a escrita''', indo além da decodificação para incluir a compreensão, interpretação crítica e produção textual contextualmente apropriada. Trata-se de um processo complexo de apropriação social da escrita, em que se conjugam competências individuais, práticas coletivas, contextos históricos e disputas ideológicas. | |||
O letramento, portanto, articula pelo menos quatro dimensões fundamentais: | |||
*a '''cognitiva''', relacionada às competências linguísticas e interpretativas; | |||
*a '''social''', vinculada às práticas coletivas de uso da escrita; | |||
*a '''ideológica''', que remete às relações de poder, valores e legitimidades; e | |||
*a '''histórica''', que evidencia a transformação constante das práticas discursivas. | |||
= Origem e desenvolvimento histórico do conceito = | |||
= | == Contexto de surgimento == | ||
O conceito de letramento emergiu nos anos 1980 como resposta a uma crescente percepção de que a alfabetização tradicional - vista como mera decodificação mecânica - era insuficiente para preparar os indivíduos para as demandas sociais da leitura e escrita. | |||
No Brasil dos anos 1980, observou-se um paradoxo: as taxas de alfabetização aumentavam, mas persistiam dificuldades relacionadas à compreensão de textos complexos, uso da escrita em contextos formais e participação crítica na sociedade letrada. Era como se as pessoas soubessem "as regras do jogo", mas não soubessem "jogar". | |||
== | == Antecedentes teóricos: Paulo Freire == | ||
''' | Essa perspectiva já aparece em '''Paulo Freire''' (1989), ao insistir que alfabetizar não pode ser compreendido como um ato meramente mecânico, mas como prática de leitura de mundo. Para Freire, o acesso à palavra escrita deve estar vinculado ao exercício da cidadania e à possibilidade de intervenção crítica na realidade. Nesse sentido, sua pedagogia antecipa a concepção de letramento como processo social, cultural e político, e não apenas como aquisição técnica. | ||
== Brian Street e os modelos de letramento == | |||
Nos anos 1980, os estudos de '''Brian Street''' consolidaram essa inflexão teórica. Street (1984) propôs a distinção entre o '''modelo autônomo''' e o '''modelo ideológico''' do letramento, fundamentais para a compreensão contemporânea do conceito. | |||
=== Modelo autônomo === | === Modelo autônomo === | ||
O modelo autônomo, dominante em muitas abordagens educacionais, apresenta as seguintes características: | |||
* Entende a escrita como um conjunto de habilidades cognitivas universais | |||
* Assume que o domínio da escrita garantiria automaticamente avanços sociais e econômicos | |||
* Trata o letramento como habilidade técnica neutra | * Trata o letramento como habilidade técnica neutra | ||
* Assume efeitos cognitivos universais | * Assume efeitos cognitivos universais | ||
* Desconsidera contextos culturais e sociais | * Desconsidera contextos culturais e sociais | ||
* '''Crítica''': Mascara as relações de poder inerentes às práticas letradas | * '''Crítica principal''': Mascara as relações de poder inerentes às práticas letradas | ||
=== Modelo ideológico === | === Modelo ideológico === | ||
* | O modelo ideológico, em contraste, caracteriza-se por: | ||
* | * Partir da ideia de que o letramento é sempre situado e permeado por ideologias | ||
* | * Reconhecer o letramento como prática social situada | ||
* Considerar as relações de poder e ideologia | |||
* Valorizar os diferentes letramentos locais | |||
* '''Vantagem''': Oferece uma visão mais democrática e inclusiva | * '''Vantagem''': Oferece uma visão mais democrática e inclusiva | ||
=== Exemplos | Como sintetiza Street (1984, p. 8), "não existe letramento em si, mas práticas de letramento, moldadas pelas estruturas de poder e pelos sistemas de significado". | ||
== O desenvolvimento no Brasil == | |||
No contexto brasileiro, '''Magda Soares''' foi responsável por difundir amplamente o conceito, destacando que o letramento é condição para o exercício pleno da cidadania e para a democratização da sociedade (Soares, 2003). | |||
Soares (1998) definiu letramento como "o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais". Esta definição revolucionou o campo ao: | |||
# '''Pluralizar o conceito''': Reconhecer que não existe UM letramento, mas múltiplos letramentos | |||
# '''Contextualizar as práticas''': Estabelecer que a leitura/escrita só fazem sentido em situações reais | |||
# '''Politizar o processo''': Reconhecer que dominar a escrita é uma questão de poder social | |||
Como observa a autora (Soares, 1998, p. 18), "não basta apenas saber ler e escrever; é preciso viver as práticas sociais da leitura e da escrita, é preciso participar de eventos de letramento". | |||
== Expansão dos estudos no Brasil == | |||
Essa reflexão articulou-se a outros estudos nacionais importantes: | |||
* '''Mary Kato''' (1986): Análise psicolinguística da escrita | |||
* '''Angela Kleiman''' (1995): Ênfase nas práticas sociais e comunitárias | |||
* '''Roxane Rojo''' (2009): Desenvolvimento dos conceitos de letramentos múltiplos e multiletramentos | |||
== Perspectiva etnográfica e crítica == | |||
A partir dessas contribuições, a pesquisa em letramento deslocou-se para uma perspectiva etnográfica e crítica, atenta às práticas concretas de leitura e escrita em comunidades específicas. | |||
'''Barton e Hamilton''' (1998) concebem o letramento como conjunto de "eventos" e "práticas", em que os textos circulam e adquirem sentido em interação com as instituições e os sujeitos. '''Angela Kleiman''' (1995) enfatiza que as práticas letradas são constitutivas da vida social e não podem ser compreendidas apenas como competências individuais. | |||
== Multiplicidade e dinamismo == | |||
Assim, torna-se necessário reconhecer a existência de '''múltiplos letramentos''': escolares, profissionais, comunitários, digitais, midiáticos, entre outros. Essa pluralidade indica que o letramento não é estático nem uniforme, mas dinâmico e historicamente situado. | |||
A invenção da imprensa, a expansão da escolarização, a cultura de massas e, mais recentemente, as tecnologias digitais alteraram profundamente as formas de ler e escrever. O conceito de '''multiletramentos''' amplia esse horizonte, ao reconhecer que as práticas de letramento contemporâneas envolvem múltiplas linguagens, semioses e suportes, o que exige competências híbridas e flexíveis. | |||
= Letramento versus alfabetização = | |||
== O paradigma da alfabetização tradicional == | |||
O modelo tradicional de alfabetização caracterizava-se por: | |||
* Foco na correspondência grafema-fonema | |||
* Ensino descontextualizado | |||
* Ênfase na correção ortográfica | |||
* Visão da escrita como código neutro | |||
* Metodologias baseadas em cartilhas e exercícios mecânicos | |||
== Exemplos comparativos == | |||
Para compreender a distinção entre alfabetização e letramento, considerem-se os seguintes exemplos: | |||
'''Situação 1 - Leitura de bula de remédio:''' | '''Situação 1 - Leitura de bula de remédio:''' | ||
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* '''Letramento acadêmico''': Citar adequadamente, construir argumentos baseados em evidências, dominar gêneros como resenha, artigo, dissertação | * '''Letramento acadêmico''': Citar adequadamente, construir argumentos baseados em evidências, dominar gêneros como resenha, artigo, dissertação | ||
= Letramento e discurso = | = Letramento e teorias do discurso = | ||
== A contribuição bakhtiniana == | == A contribuição bakhtiniana == | ||
'''Mikhail Bakhtin''' revolucionou nossa compreensão da linguagem ao propor que toda comunicação se organiza em '''gêneros do discurso''' - "tipos relativamente estáveis de enunciados". Para Bakhtin, dominar um gênero significa compreender: | |||
'''Mikhail Bakhtin''' revolucionou nossa compreensão da linguagem ao propor que toda comunicação se organiza em '''gêneros do discurso''' - "tipos relativamente estáveis de enunciados". Para Bakhtin, dominar um gênero significa compreender três dimensões: | |||
# '''Conteúdo temático''': O que pode/deve ser dito | # '''Conteúdo temático''': O que pode/deve ser dito | ||
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== Exemplos de gêneros e práticas de letramento == | == Exemplos de gêneros e práticas de letramento == | ||
=== Letramento profissional - e-mail corporativo === | === Letramento profissional - e-mail corporativo === | ||
'''Características:''' | |||
* '''Estrutura''': Assunto claro, saudação formal, corpo objetivo, despedida adequada | * '''Estrutura''': Assunto claro, saudação formal, corpo objetivo, despedida adequada | ||
* '''Linguagem''': Formal, direta, respeitosa | * '''Linguagem''': Formal, direta, respeitosa | ||
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=== Letramento acadêmico - resenha crítica === | === Letramento acadêmico - resenha crítica === | ||
'''Características:''' | |||
* '''Estrutura''': Apresentação da obra, resumo, análise crítica, avaliação | * '''Estrutura''': Apresentação da obra, resumo, análise crítica, avaliação | ||
* '''Linguagem''': Formal acadêmica, terminologia específica, impessoalidade | * '''Linguagem''': Formal acadêmica, terminologia específica, impessoalidade | ||
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=== Letramento digital - | === Letramento digital - post em rede social === | ||
'''Características:''' | |||
* '''Estrutura''': Gancho inicial, desenvolvimento breve, call-to-action | * '''Estrutura''': Gancho inicial, desenvolvimento breve, call-to-action | ||
* '''Linguagem''': Informal, emotiva, uso de hashtags e emojis | * '''Linguagem''': Informal, emotiva, uso de hashtags e emojis | ||
* '''Contexto social''': Engajamento, viralização, construção de persona | * '''Contexto social''': Engajamento, viralização, construção de persona | ||
== O discurso segundo Foucault == | == O discurso segundo Foucault == | ||
'''Michel Foucault''' amplia nossa compreensão ao mostrar que o '''discurso''' não é apenas linguagem, mas um conjunto de práticas que constroem conhecimento e poder. Para Foucault, os discursos: | '''Michel Foucault''' amplia nossa compreensão ao mostrar que o '''discurso''' não é apenas linguagem, mas um conjunto de práticas que constroem conhecimento e poder. Para Foucault, os discursos: | ||
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'''Letramento como prática discursiva:''' Dominar um letramento específico significa participar de uma '''formação discursiva''', ou seja, compartilhar regras implícitas sobre o que é válido, verdadeiro e legítimo naquele contexto. | '''Letramento como prática discursiva:''' Dominar um letramento específico significa participar de uma '''formação discursiva''', ou seja, compartilhar regras implícitas sobre o que é válido, verdadeiro e legítimo naquele contexto. | ||
=== Exemplo: o discurso médico === | ==== Exemplo: o discurso médico ==== | ||
'''Características do letramento médico:''' | '''Características do letramento médico:''' | ||
* '''Vocabulário técnico''': Uso preciso de terminologia científica | * '''Vocabulário técnico''': Uso preciso de terminologia científica | ||
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'''Implicação social:''' Quando um paciente não domina esse letramento, fica em posição de subordinação, aceitando passivamente as orientações sem compreender plenamente sua condição. | '''Implicação social:''' Quando um paciente não domina esse letramento, fica em posição de subordinação, aceitando passivamente as orientações sem compreender plenamente sua condição. | ||
= Críticas e limitações do conceito de | = Críticas e limitações do conceito = | ||
Apesar de sua importância, o conceito de letramento tem recebido várias críticas que merecem consideração cuidadosa. | |||
== Críticas teóricas == | == Críticas teóricas == | ||
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'''Exemplo:''' Testes padronizados podem não capturar letramentos locais relevantes. | '''Exemplo:''' Testes padronizados podem não capturar letramentos locais relevantes. | ||
=== Relativismo | === Relativismo versus padrões === | ||
'''Tensão:''' Como equilibrar o respeito à diversidade de letramentos com a necessidade de critérios educacionais? | '''Tensão:''' Como equilibrar o respeito à diversidade de letramentos com a necessidade de critérios educacionais? | ||
= Implicações | = Implicações educacionais = | ||
== Repensando o papel da escola == | == Repensando o papel da escola == | ||
A escola deixa de ser local de transmissão de conhecimentos "neutros" para se tornar espaço de '''mediação entre diferentes letramentos'''. | |||
A escola deixa de ser local de transmissão de conhecimentos "neutros" para se tornar espaço de '''mediação entre diferentes letramentos'''. Entendê-lo implica reconhecer que as formas de legitimar certos gêneros e excluir outros refletem desigualdades estruturais. Quando a escola privilegia apenas determinadas variedades linguísticas ou gêneros formais, por exemplo, reforça distinções de classe, etnia ou gênero, marginalizando práticas letradas populares e comunitárias. | |||
'''Princípios norteadores:''' | '''Princípios norteadores:''' | ||
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'''Perguntas-chave:''' Quem fala? Para quem? Com que interesse? O que está silenciado? | '''Perguntas-chave:''' Quem fala? Para quem? Com que interesse? O que está silenciado? | ||
== Exemplos de atividades == | == Exemplos de atividades == | ||
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# Criar um documentário (letramento audiovisual) | # Criar um documentário (letramento audiovisual) | ||
# Organizar exposição na escola (letramento expositivo) | # Organizar exposição na escola (letramento expositivo) | ||
== Formação docente: novos desafios == | |||
=== Autoconhecimento dos próprios letramentos === | |||
O professor precisa refletir sobre suas próprias práticas letradas. | |||
'''Questão reflexiva:''' "Que letramentos domino? Quais ainda preciso desenvolver?" | |||
=== Competência intercultural === | |||
Capacidade de transitar entre diferentes letramentos sem hierarquizá-los. | |||
'''Exemplo:''' Valorizar tanto a escrita formal quanto o slam poetry. | |||
=== Atualização constante === | |||
Os letramentos são dinâmicos, especialmente os digitais. | |||
'''Desafio:''' Acompanhar as transformações tecnológicas e sociais. | |||
== Avaliação em contextos de letramento == | == Avaliação em contextos de letramento == | ||
'''Mudança de paradigma:''' Da avaliação de "erros" para avaliação de '''adequação ao contexto'''. | '''Mudança de paradigma:''' Da avaliação de "erros" para avaliação de '''adequação ao contexto'''. | ||
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= Considerações finais = | = Considerações finais = | ||
O conceito de letramento, apesar de suas limitações e críticas, continua sendo fundamental para compreendermos os desafios educacionais contemporâneos. Essa concepção amplia o horizonte da educação, deslocando a ênfase da mera decodificação para a participação crítica em culturas letradas diversas. | |||
O letramento nos convida a: | |||
# '''Reconhecer a diversidade''' de formas de ler e escrever o mundo | # '''Reconhecer a diversidade''' de formas de ler e escrever o mundo | ||
# '''Questionar as hierarquias''' entre diferentes práticas letradas | # '''Questionar as hierarquias''' entre diferentes práticas letradas | ||
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Em um mundo de transformações digitais aceleradas, mudanças nas formas de trabalho e crescente polarização social, que novos letramentos precisaremos desenvolver? E como garantir que esses desenvolvimentos sejam democráticos e inclusivos? | Em um mundo de transformações digitais aceleradas, mudanças nas formas de trabalho e crescente polarização social, que novos letramentos precisaremos desenvolver? E como garantir que esses desenvolvimentos sejam democráticos e inclusivos? | ||
Em síntese, o letramento não pode ser reduzido à alfabetização, embora a inclua. Trata-se de um processo complexo de apropriação social da escrita, em que se conjugam competências individuais, práticas coletivas, contextos históricos e disputas ideológicas. | |||
= Bibliografia = | = Bibliografia = | ||
== Bibliografia | == Bibliografia básica == | ||
* BAKHTIN, M. ''Estética da criação verbal''. São Paulo: Martins Fontes, 2003. | * BAKHTIN, M. ''Estética da criação verbal''. São Paulo: Martins Fontes, 2003. | ||
* KLEIMAN, A. B. ''Preciso "ensinar" o letramento?'' Campinas: Cefiel/Unicamp, 2005. | * KLEIMAN, A. B. ''Preciso "ensinar" o letramento?'' Campinas: Cefiel/Unicamp, 2005. | ||
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* STREET, B. ''Literacy in Theory and Practice''. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. | * STREET, B. ''Literacy in Theory and Practice''. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. | ||
== | == Bibliografia complementar == | ||
* BARTON, David; HAMILTON, Mary. ''Local Literacies: Reading and Writing in One Community''. London: Routledge, 1998. | |||
* BRITTO, L. P. L. ''Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação''. Campinas: Mercado de Letras, 2003. | * BRITTO, L. P. L. ''Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação''. Campinas: Mercado de Letras, 2003. | ||
* COLLINS, J.; BLOT, R. ''Literacy and Literacies''. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. | * COLLINS, J.; BLOT, R. ''Literacy and Literacies''. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. | ||
* FOUCAULT, M. ''A arqueologia do saber''. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. | * FOUCAULT, M. ''A arqueologia do saber''. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. | ||
* FREIRE, Paulo. ''A importância do ato de ler: em três artigos que se completam''. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989. | |||
* KATO, Mary. ''No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística''. São Paulo: Ática, 1986. | |||
* KLEIMAN, Angela. ''Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola''. Campinas: Mercado de Letras, 1995. | |||
* ROJO, Roxane. ''Letramentos múltiplos, escola e inclusão social''. São Paulo: Parábola, 2009. | |||
* SOARES, Magda. ''Alfabetização e letramento''. São Paulo: Contexto, 2003. | |||
* THE NEW LONDON GROUP. ''A Pedagogy of Multiliteracies: Designing Social Futures''. ''Harvard Educational Review'', v. 66, n. 1, p. 60-92, 1996. | |||
Edição atual tal como às 01h42min de 17 de setembro de 2025
O conceito de letramento ocupa posição central nos estudos da linguagem e da educação, distinguindo-se, embora não se desvincule, da noção de alfabetização. Enquanto a alfabetização se refere principalmente à aquisição do sistema de escrita alfabética e à capacidade técnica de decodificação e codificação, o letramento diz respeito à apropriação social da leitura e da escrita, em suas múltiplas funções, práticas e significados.
O letramento representa a capacidade de usar socialmente a leitura e a escrita, indo além da decodificação para incluir a compreensão, interpretação crítica e produção textual contextualmente apropriada. Trata-se de um processo complexo de apropriação social da escrita, em que se conjugam competências individuais, práticas coletivas, contextos históricos e disputas ideológicas.
O letramento, portanto, articula pelo menos quatro dimensões fundamentais:
- a cognitiva, relacionada às competências linguísticas e interpretativas;
- a social, vinculada às práticas coletivas de uso da escrita;
- a ideológica, que remete às relações de poder, valores e legitimidades; e
- a histórica, que evidencia a transformação constante das práticas discursivas.
Origem e desenvolvimento histórico do conceito[editar]
Contexto de surgimento[editar]
O conceito de letramento emergiu nos anos 1980 como resposta a uma crescente percepção de que a alfabetização tradicional - vista como mera decodificação mecânica - era insuficiente para preparar os indivíduos para as demandas sociais da leitura e escrita.
No Brasil dos anos 1980, observou-se um paradoxo: as taxas de alfabetização aumentavam, mas persistiam dificuldades relacionadas à compreensão de textos complexos, uso da escrita em contextos formais e participação crítica na sociedade letrada. Era como se as pessoas soubessem "as regras do jogo", mas não soubessem "jogar".
Antecedentes teóricos: Paulo Freire[editar]
Essa perspectiva já aparece em Paulo Freire (1989), ao insistir que alfabetizar não pode ser compreendido como um ato meramente mecânico, mas como prática de leitura de mundo. Para Freire, o acesso à palavra escrita deve estar vinculado ao exercício da cidadania e à possibilidade de intervenção crítica na realidade. Nesse sentido, sua pedagogia antecipa a concepção de letramento como processo social, cultural e político, e não apenas como aquisição técnica.
Brian Street e os modelos de letramento[editar]
Nos anos 1980, os estudos de Brian Street consolidaram essa inflexão teórica. Street (1984) propôs a distinção entre o modelo autônomo e o modelo ideológico do letramento, fundamentais para a compreensão contemporânea do conceito.
Modelo autônomo[editar]
O modelo autônomo, dominante em muitas abordagens educacionais, apresenta as seguintes características:
- Entende a escrita como um conjunto de habilidades cognitivas universais
- Assume que o domínio da escrita garantiria automaticamente avanços sociais e econômicos
- Trata o letramento como habilidade técnica neutra
- Assume efeitos cognitivos universais
- Desconsidera contextos culturais e sociais
- Crítica principal: Mascara as relações de poder inerentes às práticas letradas
Modelo ideológico[editar]
O modelo ideológico, em contraste, caracteriza-se por:
- Partir da ideia de que o letramento é sempre situado e permeado por ideologias
- Reconhecer o letramento como prática social situada
- Considerar as relações de poder e ideologia
- Valorizar os diferentes letramentos locais
- Vantagem: Oferece uma visão mais democrática e inclusiva
Como sintetiza Street (1984, p. 8), "não existe letramento em si, mas práticas de letramento, moldadas pelas estruturas de poder e pelos sistemas de significado".
O desenvolvimento no Brasil[editar]
No contexto brasileiro, Magda Soares foi responsável por difundir amplamente o conceito, destacando que o letramento é condição para o exercício pleno da cidadania e para a democratização da sociedade (Soares, 2003).
Soares (1998) definiu letramento como "o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais". Esta definição revolucionou o campo ao:
- Pluralizar o conceito: Reconhecer que não existe UM letramento, mas múltiplos letramentos
- Contextualizar as práticas: Estabelecer que a leitura/escrita só fazem sentido em situações reais
- Politizar o processo: Reconhecer que dominar a escrita é uma questão de poder social
Como observa a autora (Soares, 1998, p. 18), "não basta apenas saber ler e escrever; é preciso viver as práticas sociais da leitura e da escrita, é preciso participar de eventos de letramento".
Expansão dos estudos no Brasil[editar]
Essa reflexão articulou-se a outros estudos nacionais importantes:
- Mary Kato (1986): Análise psicolinguística da escrita
- Angela Kleiman (1995): Ênfase nas práticas sociais e comunitárias
- Roxane Rojo (2009): Desenvolvimento dos conceitos de letramentos múltiplos e multiletramentos
Perspectiva etnográfica e crítica[editar]
A partir dessas contribuições, a pesquisa em letramento deslocou-se para uma perspectiva etnográfica e crítica, atenta às práticas concretas de leitura e escrita em comunidades específicas.
Barton e Hamilton (1998) concebem o letramento como conjunto de "eventos" e "práticas", em que os textos circulam e adquirem sentido em interação com as instituições e os sujeitos. Angela Kleiman (1995) enfatiza que as práticas letradas são constitutivas da vida social e não podem ser compreendidas apenas como competências individuais.
Multiplicidade e dinamismo[editar]
Assim, torna-se necessário reconhecer a existência de múltiplos letramentos: escolares, profissionais, comunitários, digitais, midiáticos, entre outros. Essa pluralidade indica que o letramento não é estático nem uniforme, mas dinâmico e historicamente situado.
A invenção da imprensa, a expansão da escolarização, a cultura de massas e, mais recentemente, as tecnologias digitais alteraram profundamente as formas de ler e escrever. O conceito de multiletramentos amplia esse horizonte, ao reconhecer que as práticas de letramento contemporâneas envolvem múltiplas linguagens, semioses e suportes, o que exige competências híbridas e flexíveis.
Letramento versus alfabetização[editar]
O paradigma da alfabetização tradicional[editar]
O modelo tradicional de alfabetização caracterizava-se por:
- Foco na correspondência grafema-fonema
- Ensino descontextualizado
- Ênfase na correção ortográfica
- Visão da escrita como código neutro
- Metodologias baseadas em cartilhas e exercícios mecânicos
Exemplos comparativos[editar]
Para compreender a distinção entre alfabetização e letramento, considerem-se os seguintes exemplos:
Situação 1 - Leitura de bula de remédio:
- Alfabetização: Decodificar "tomar 2 comprimidos a cada 8 horas"
- Letramento: Compreender que isso significa 3 vezes ao dia, calcular os horários adequados, entender as contraindicações, saber quando procurar orientação médica
Situação 2 - Redes sociais:
- Alfabetização: Ler e escrever comentários
- Letramento digital: Identificar fake news, compreender algoritmos, usar adequadamente diferentes linguagens (memes, hashtags), entender questões de privacidade
Situação 3 - Ambiente acadêmico:
- Alfabetização: Ler textos teóricos
- Letramento acadêmico: Citar adequadamente, construir argumentos baseados em evidências, dominar gêneros como resenha, artigo, dissertação
Letramento e teorias do discurso[editar]
A contribuição bakhtiniana[editar]
Mikhail Bakhtin revolucionou nossa compreensão da linguagem ao propor que toda comunicação se organiza em gêneros do discurso - "tipos relativamente estáveis de enunciados". Para Bakhtin, dominar um gênero significa compreender três dimensões:
- Conteúdo temático: O que pode/deve ser dito
- Estrutura composicional: Como organizar o texto
- Estilo: Que linguagem usar
Implicações para o letramento: Ser letrado significa dominar os gêneros relevantes para sua participação social. Cada esfera de atividade (escola, trabalho, família, lazer) possui seus gêneros específicos.
Exemplos de gêneros e práticas de letramento[editar]
Letramento profissional - e-mail corporativo[editar]
Características:
- Estrutura: Assunto claro, saudação formal, corpo objetivo, despedida adequada
- Linguagem: Formal, direta, respeitosa
- Contexto social: Hierarquias, prazos, protocolos institucionais
| Inadequado | Adequado |
|---|---|
| "Oi, preciso falar com você" | "Assunto: Solicitação de reunião - Projeto X Prezado Sr. Silva, solicito agendar reunião..." |
Letramento acadêmico - resenha crítica[editar]
Características:
- Estrutura: Apresentação da obra, resumo, análise crítica, avaliação
- Linguagem: Formal acadêmica, terminologia específica, impessoalidade
- Contexto social: Comunidade científica, avaliação por pares
| Inadequado | Adequado |
|---|---|
| "O livro é muito bom e interessante" | "A obra apresenta contribuições significativas ao campo teórico, especialmente na articulação entre os conceitos de..." |
Letramento digital - post em rede social[editar]
Características:
- Estrutura: Gancho inicial, desenvolvimento breve, call-to-action
- Linguagem: Informal, emotiva, uso de hashtags e emojis
- Contexto social: Engajamento, viralização, construção de persona
O discurso segundo Foucault[editar]
Michel Foucault amplia nossa compreensão ao mostrar que o discurso não é apenas linguagem, mas um conjunto de práticas que constroem conhecimento e poder. Para Foucault, os discursos:
- Determinam o que pode ser dito em determinado contexto
- Estabelecem quem tem autoridade para falar
- Criam objetos de conhecimento e formas de subjetivação
Letramento como prática discursiva: Dominar um letramento específico significa participar de uma formação discursiva, ou seja, compartilhar regras implícitas sobre o que é válido, verdadeiro e legítimo naquele contexto.
Exemplo: o discurso médico[editar]
Características do letramento médico:
- Vocabulário técnico: Uso preciso de terminologia científica
- Estrutura argumentativa: Baseada em evidências empíricas
- Autoridade epistêmica: Legitimada pela formação e instituição
- Relações de poder: Define quem pode "diagnosticar" e "prescrever"
Implicação social: Quando um paciente não domina esse letramento, fica em posição de subordinação, aceitando passivamente as orientações sem compreender plenamente sua condição.
Críticas e limitações do conceito[editar]
Apesar de sua importância, o conceito de letramento tem recebido várias críticas que merecem consideração cuidadosa.
Críticas teóricas[editar]
Risco de "pedagogização" excessiva[editar]
Crítica de Collins e Blot (2003): O conceito pode ser usado para responsabilizar indivíduos por "deficiências" que são, na verdade, questões estruturais.
Exemplo: Culpar trabalhadores por não conseguirem empregos por "falta de letramento", ignorando questões como desemprego estrutural e precarização.
Idealização do letramento dominante[editar]
Crítica: Tendência a valorizar apenas os letramentos das classes dominantes.
Exemplo: Desvalorizar o letramento de comunidades periféricas (como o rap, cordel, literatura marginal) em favor do letramento escolar tradicional.
Multiplicação excessiva de "letramentos"[editar]
Crítica de Britto (2003): A proliferação de termos (letramento digital, científico, matemático, etc.) pode esvaziar o conceito.
Risco: Perder o foco nas questões fundamentais de acesso à cultura escrita.
Determinismo tecnológico[editar]
Crítica: Associar automaticamente novas tecnologias a novos letramentos sem considerar continuidades.
Exemplo: Assumir que usar redes sociais automaticamente desenvolve "letramento digital crítico".
Críticas políticas e sociais[editar]
Despolitização das desigualdades[editar]
Problema: Focar apenas nas habilidades individuais, ignorando estruturas de classe, raça e gênero.
Exemplo: Programas de "inclusão digital" que oferecem acesso à tecnologia mas não questionam por que esse acesso era restrito.
Colonialismo epistêmico[editar]
Crítica: Impor modelos de letramento ocidentais/urbanos sobre comunidades tradicionais.
Exemplo: Exigir letramento escolar de povos indígenas sem valorizar suas tradições orais.
Limitações metodológicas[editar]
Dificuldade de mensuração[editar]
Problema: Como medir algo tão complexo e contextual quanto o letramento?
Exemplo: Testes padronizados podem não capturar letramentos locais relevantes.
Relativismo versus padrões[editar]
Tensão: Como equilibrar o respeito à diversidade de letramentos com a necessidade de critérios educacionais?
Implicações educacionais[editar]
Repensando o papel da escola[editar]
A escola deixa de ser local de transmissão de conhecimentos "neutros" para se tornar espaço de mediação entre diferentes letramentos. Entendê-lo implica reconhecer que as formas de legitimar certos gêneros e excluir outros refletem desigualdades estruturais. Quando a escola privilegia apenas determinadas variedades linguísticas ou gêneros formais, por exemplo, reforça distinções de classe, etnia ou gênero, marginalizando práticas letradas populares e comunitárias.
Princípios norteadores:
- Diversidade: Reconhecer e valorizar os letramentos que os alunos trazem
- Criticidade: Desenvolver leitura crítica dos textos e contextos
- Funcionalidade: Conectar as práticas escolares com práticas sociais reais
- Democratização: Garantir acesso aos letramentos de prestígio social
Estratégias pedagógicas[editar]
Projetos de letramento (Kleiman)[editar]
Princípio: Partir de problemas reais da comunidade.
Exemplo: Investigar a qualidade da água do bairro → produzir relatório → apresentar para autoridades locais.
Gêneros envolvidos: Questionário, relatório científico, carta formal, apresentação oral.
Sequências didáticas com gêneros (Dolz e Schneuwly)[editar]
Estrutura: Apresentação da situação → primeira produção → módulos de aprendizagem → produção final.
Exemplo prático:
- Situação: Criar um podcast sobre literatura brasileira
- Gêneros trabalhados: Roteiro, entrevista, resenha crítica
- Habilidades: Pesquisa, síntese, oralidade, edição de áudio
Letramentos críticos[editar]
Objetivo: Questionar as relações de poder presentes nos textos.
Exemplo: Analisar como diferentes jornais cobrem o mesmo evento.
Perguntas-chave: Quem fala? Para quem? Com que interesse? O que está silenciado?
Exemplos de atividades[editar]
Atividade multiletramento - "Fake News"[editar]
Objetivo: Desenvolver letramento digital crítico.
Processo:
- Coletar notícias sobre o mesmo tema em diferentes fontes
- Identificar elementos textuais e extratextuais que indicam confiabilidade
- Criar um guia visual (infográfico) sobre como identificar fake news
- Compartilhar nas redes sociais da escola
Projeto "Memórias do Bairro"[editar]
Objetivo: Valorizar letramentos locais.
Processo:
- Entrevistar moradores antigos (letramento oral)
- Pesquisar documentos históricos (letramento acadêmico)
- Criar um documentário (letramento audiovisual)
- Organizar exposição na escola (letramento expositivo)
Formação docente: novos desafios[editar]
Autoconhecimento dos próprios letramentos[editar]
O professor precisa refletir sobre suas próprias práticas letradas.
Questão reflexiva: "Que letramentos domino? Quais ainda preciso desenvolver?"
Competência intercultural[editar]
Capacidade de transitar entre diferentes letramentos sem hierarquizá-los.
Exemplo: Valorizar tanto a escrita formal quanto o slam poetry.
Atualização constante[editar]
Os letramentos são dinâmicos, especialmente os digitais.
Desafio: Acompanhar as transformações tecnológicas e sociais.
Avaliação em contextos de letramento[editar]
Mudança de paradigma: Da avaliação de "erros" para avaliação de adequação ao contexto.
Critérios avaliativos:
- Eficácia comunicativa: O texto cumpre seu propósito?
- Adequação ao gênero: Respeita as convenções esperadas?
- Criticidade: Demonstra reflexão sobre o contexto social?
- Criatividade: Inova dentro das possibilidades do gênero?
Considerações finais[editar]
O conceito de letramento, apesar de suas limitações e críticas, continua sendo fundamental para compreendermos os desafios educacionais contemporâneos. Essa concepção amplia o horizonte da educação, deslocando a ênfase da mera decodificação para a participação crítica em culturas letradas diversas.
O letramento nos convida a:
- Reconhecer a diversidade de formas de ler e escrever o mundo
- Questionar as hierarquias entre diferentes práticas letradas
- Conectar escola e vida social de forma mais orgânica e crítica
- Formar cidadãos críticos capazes de participar ativamente da sociedade
Em um mundo de transformações digitais aceleradas, mudanças nas formas de trabalho e crescente polarização social, que novos letramentos precisaremos desenvolver? E como garantir que esses desenvolvimentos sejam democráticos e inclusivos?
Em síntese, o letramento não pode ser reduzido à alfabetização, embora a inclua. Trata-se de um processo complexo de apropriação social da escrita, em que se conjugam competências individuais, práticas coletivas, contextos históricos e disputas ideológicas.
Bibliografia[editar]
Bibliografia básica[editar]
- BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
- KLEIMAN, A. B. Preciso "ensinar" o letramento? Campinas: Cefiel/Unicamp, 2005.
- ROJO, R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
- SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
- STREET, B. Literacy in Theory and Practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
Bibliografia complementar[editar]
- BARTON, David; HAMILTON, Mary. Local Literacies: Reading and Writing in One Community. London: Routledge, 1998.
- BRITTO, L. P. L. Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação. Campinas: Mercado de Letras, 2003.
- COLLINS, J.; BLOT, R. Literacy and Literacies. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
- FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
- FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989.
- KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática, 1986.
- KLEIMAN, Angela. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1995.
- ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009.
- SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.
- THE NEW LONDON GROUP. A Pedagogy of Multiliteracies: Designing Social Futures. Harvard Educational Review, v. 66, n. 1, p. 60-92, 1996.