Árias e Canções ALPHONSUS DE GUIMARãES (1899) Alphonsus de Guimaraens (1870–1921), poeta brasileiro nascido em Ouro Preto, publicou o poema Árias e Canções em 1899, no livro Dona Mística. Representante do simbolismo brasileiro, sua obra destaca-se pelo lirismo melancólico e pelo misticismo religioso. Em Árias e Canções, explora temas como a morte, o amor idealizado e a busca por transcendência, utilizando uma linguagem musical e sensorial. A suave castelã das horas mortasAssoma à torre do castelo. As portas, Que o rubro ocaso em onda ensangüentara, Brilham do luar à Luz celeste e clara. Como em órbitas de fatais caveiras Olhos que fossem de defuntas freiras, Os astros morrem pelo céu pressago... São como círios a tombar num lago. E o céu, diante de mim, todo escurece... E eu nem sei de cor uma só prece! Pobre Alma, que me queres, que me queres? São assim todas, todas as mulheres. Hirta e branca... Repousa a sua áurea cabeçaNuma almofada de cetim bordada em lírios. Ei-la morta afinal como quem adormeça Aqui para sofrer Além novos martírios. De mãos postas, num sonho ausente, a sombra espessa Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios: Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa Da Idade Média, morta em sagrados delírios. Os poentes sepulcrais do extremo desengano Vão enchendo de luto as paredes vazias, E velam para sempre o seu olhar humano. Expira, ao longe, o vento, e o luar, longinquamente, Alveja, embalsamando as brancas agonias Na sonolenta paz desta Câmara-ardente...